É algo rotineiro, diário de quase – senão de todas – as pessoas, acordar
e ligar a televisão para saber das notícias. Seja uma senhora perguntando sobre
seus novos vizinhos, um homem do campo ouvindo um rádio de pilha ou um
executivo lendo um jornal, todos atualmente estão muito interessados em um
produto chamado informação.
A necessidade de informação, de novidade, é tão antiga quanto o homem.
Os nossos antepassados que se aproximavam cuidadosos de uma árvore em chamas
após um relâmpago estavam curiosos com o fenômeno e queriam conhecê-lo melhor.
Da mesma forma, uma criança que coloca um objeto na boca está querendo informações
sobre ele. A curiosidade e a necessidade de informações movem o mundo.
Essa necessidade nos colocou num patamar de dependência, e logo, uma
demanda muito maior da informação. Por isso, ela se tornou moeda de troca, se
tornou objeto de desejo de muitos, se você sabe fazer, você não ensina de
graça, você vende a informação.
E isso gerou um consumo excessivo. Todos querem ser informados, o
cérebro trabalha diariamente com informação constantes. Precisamos, queremos e
procuramos ela a todo momento.
Por outro lado quando já sabemos aquilo se torna redundante para nós, ou
seja, uma notícia que já tenha sido veiculada dificilmente vai voltar a ter
interesse para o receptor.
As pessoas costumam ter certa ojeriza à redundância. Pessoas que falam
muito e dizem pouco costumam ser evitadas e chamadas de chatas. O indivíduo
chato é, na verdade, um tremendo redundante.
Nosso cérebro tem tanta necessidade de informação que, quando o
estímulo é muito redundante, ele simplesmente apaga.
O mesmo ocorre com aquelas aulas chatas, em que todo mundo dorme. O
estímulo é tão redundante que o cérebro se nega a continuar prestando atenção.
Há um conto de Cortázar que mostra bem isso.
“Um homem senta-se em um banco de praça e começa a ler um jornal. À
medida em que lê, as páginas vão ficando em branco, demonstrando que aquilo já
não é mais informação para ele. O homem termina de ler e deixa as folhas em branco sobre o banco.
Passa uma outra pessoa e vê um jornal normal. Afinal, como ela ainda não leu o
jornal, ele ainda traz informações para ela. A pessoa começa a ler e as páginas
vão ficando em branco, como ocorrera com o outro.
O processo continua por todo o dia, até a meia-noite, quando o jornal
fica definitivamente em branco, ou seja, ele deixa de ser informativo e passa a
ser definitivamente, redundante.”
A mídia portanto, se utiliza de forma agressiva da necessidade humana,
uma ideologia básica capitalista, tudo que é necessário para a sobrevivência se
torna um produto, e um produto é lucro.
Utiliza-se também das informações ainda não veiculadas, ter
exclusividade numa notícia é sinônimo de audiência e de compra, mas ao mesmo
tempo é também poder ser o primeiro a manipular a informação a seu favor, é difícil
tirar aquilo que já foi absorvido pela mente humana.
Mas até mesmo sem ser exclusiva, a informação pode ser manipulada para
qualquer interesse, desde que tenha alguma porcentagem de verdade.
Na verdade os veículos de informação tradicional são simplesmente
vendedores, o lado que mais pagar a eles terá vantagem sempre, isso é
capitalismo, não é politicamente errado vender, a informação consta verdade, só
não é favorável ao lado que pouco paga. Não se vê jornal ou canal de
televisão indo contra quem os patrocina, não se vê patrocínio sendo denunciado
no programa de domingo à noite.
O maior problema é contestar uma notícia de grande circulação. O
capitalismo é vaidoso, se o seu jornal tem jornalistas prestigiados e um
investimento de peso, você terá uma credibilidade maior, mais não
necessariamente melhor que de um jornal mais barato. Contestar essa informação
é quase impossível. Por isso, nós não tentamos, mesmo que tenham muitas mais
pessoas para contestar o jornal que para ler, é algo simples, cruel.
A informação é valiosa, isso foi o princípio buscado no período de
sucateamento do Brasil e isso é o nosso conceito atual, por isso escolas
públicas tem menor prestigio que uma particular, por isso que é mais “seguro”
pagar para ter saúde, por isso é mais difícil completar um doutorado.
Não é culpa da mídia que manipula informações, a culpa é de quem
assiste, compartilha e renova a cada dia as contas paradisíacas dos empresários
que as compram. A culpa é de quem ainda continua absorvendo sem o menor senso
crítico o que é passado. Se tem discernimento, interesse, se busca, e em
qualquer informação, seja ela qual for, terão ‘n’ lados que podem servir para
interesse de muitos. A realidade é que o lado mostrado só privilegia a uns e
não a todos.
Então quanto maior a concorrência, maior e melhor a informação é
distribuída, se não tem praticamente concorrência a informação é sempre
parecida e é isso que ocorre no país, enquanto não mudar esse patamar, os
manifestantes serão sempre vândalos, os jovens estarão sempre errados e o país não
terá jeito. Enquanto a TV estiver ligada no Brasil, a mente estará desligada
para a completa verdade.
“O mundo não está perdido quando os maus gritam e sim quando os bons
se calam.”
Ainda assim, posso afirmar, adaptando o bordão das ruas:
"Você é o que você ler. A informação será sempre tendenciosa"
Ainda assim, posso afirmar, adaptando o bordão das ruas:
"Você é o que você ler. A informação será sempre tendenciosa"
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