Participação Popular, Democracia e a Luta contra o aumento das passagens.

É lugar comum no que se chama de opinião pública, e é introduzida de forma massificada a noção de que vivemos em uma democracia, e que um requisito básico, que vem da própria etimologia da palavra, seria o “governo de todos”, ou do povo, de onde se retira a noção de ampla participação nas decisões políticas. 

Esses paradigmas são questionados, ampliados, distorcidos e configuram uma noção de certa forma distinta do tipo ideal formulado pelos teóricos. Movimentos como a recente luta unificada contra o aumento das passagens nos fazem refletir novamente sobre democracia, e a tão necessária participação popular.

Platão foi um ávido crítico da democracia ateniense, que ironicamente matou o seu predecessor Sócrates, que nada fez além de instigar as pessoas a buscarem o conhecimento verdadeiro além do meramente oferecido pelos sentidos ou pelas manobras retóricas sofistas. É válido fazermos essa viagem no tempo, para observamos que o conceito de democracia, embora aceito pela maioria das pessoas como o ideal, e ser acreditado como a forma de organização vigente , apresenta em suas tentativas, falhas enormes.

No último dia 13, vários centros do Brasil observaram a mobilização de estudantes, trabalhadores, e  membros da população em geral, que resolveram demonstrar sua indignação com o aumento arbitrário das passagens, que não são acompanhadas por melhorias adequadas e amplas no serviço de ônibus, muito menos por aumentos devidamente merecidos aos trabalhadores do transporte (observando os recentes movimentos e mobilizações grevistas que denunciam a falibilidade desse sistema). As ruas foram tomadas, ouve repressão, muitos estudantes ficaram feridos. Por outro lado, existem muitas acusações de depredação de patrimônio, lançamento de bombas e hostilidade “gratuita”.

Diante desse panorama surge à oportunidade de observamos na história exemplos de como o povo participou e mudou de certa forma os processos políticos, também no Brasil, que especificamente tem nos seus marcos históricos o povo afastado das maiores decisões pelo estímulo a despolitização popular e a marcada posição de oligarquias na condução dos governos. O momento é de refletir que um elemento importantíssimo da democracia é a participação popular, que muitas vezes se restringe apenas a escolher um representante, mas de fato não deve se limitar a isso deve buscar ir além, acompanhar os atos dos governantes, cobrar, exigir, e fizer valer não só os deveres que nos são cobrados, mas os direitos.

Muitos se aproveitam da mobilização política da juventude e de setores da sociedade, para se promover enquanto candidato, ou partido (cuja luta é politizada e deve sim se misturar as causas populares, o risco está em se tornar pura demagogia eleitoreira), e o pior, de vândalos que buscam movimentos como esse, para sem ideologia alguma, denegrir a imagem de um movimento pacífico e legítimo (não dando imunidade a atitude truculenta de muitos policiais). O desrespeito a luta corre por várias correntes, a repressiva, e aquela mais perigosa, a que vem de dentro, grupos que precisam de um choque de realidade, e de noção que não basta apenas reivindicar, temos que apresentar e apoiar projetos alternativos de gestão pública.

Para aqueles que continuam achando que se trata apenas de 0,20 centavos, vale apena refletir sobre a dinâmica da política estadual e nacional, o patrocínio de campanhas por empresas de ônibus, que agora tem que ser retribuído. Esse pequeno valor multiplicado pelos milhões de usuários do transporte diariamente se torna enorme, mensalmente, anualmente toma proporções significantes, e que não são muitas vezes consideradas nesses aumentos progressivos. Foi tratado no Rio de Janeiro, reajuste do preço das passagens anualmente, o irônico é que acordos para reajuste de salários de professores sofrem tanto para acontecer, e geralmente não saem da inércia sem serem impulsionados por greves. Não se trata de 0,20 centavos, mas da noção de participação , de uma unidade da população em torno de um objetivo em comum, representar insatisfação e necessidade de muitas mudanças, essa é só uma de muitas lutas.

Como ironicamente ou não diz o tema da Copa das Confederações: “A rua se tornou a maior arquibancada do Brasil”, e a população está se conscientizando, o movimento tomou proporções internacionais, com cobertura (muitas vezes tendenciosa, outras não) da grande mídia, vamos continuar observando ,discutindo esse movimento, que com certeza ainda colocará muitos pontos em pauta, vai movimentar muita gente e organizações, como o próprio movimento reivindica: “Se a tarifa não baixar, a cidade vai parar”.

Nassor de Oliveira Ramos
Graduando em Ciência Política

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